Cultura do cancelamento: atitude benéfica à reparação de erros ou linchamento sem necessidade?

Texto 1

O cancelamento não é uma novidade dentro da sociedade. Desde os tempos remotos, julgar e condenar alguém, por alguma atitude considerada equivocada, acontecia “normalmente”. Assim, ganhou nomes diferentes no decorrer dos séculos, mas nunca perdeu sua essência de massacrar e apontar o dedo aos erros de outro. 

Atualmente, com o advento da internet, isso ficou muito mais fácil e visível diante da possibilidade de manter o anonimato enquanto o internauta profere qualquer tipo de ofensa.

O ano de 2021 ficou marcado como um dos períodos em que mais se cancelou pessoas famosas. A cantora Karol Conká, por exemplo, participou de um reality show na TV em que foi eliminada com 99,17% dos votos, uma rejeição histórica, jamais vista na história do programa que tem mais de 20 anos de exibição.

(…)

A antropóloga Izabel Accioly acredita que as pessoas que mais sofrem com a questão do cancelamento são aquelas mais vulnerabilizadas: pessoas pobres, negras, LGBTQIA+ e mulheres. Ela diz que a sociedade entende estes indivíduos e corpos como públicos ou até mesmo como pessoas que “não têm valor”. Por este motivo, está “tudo bem falar mal de quem não tem tanto valor assim”. 

Izabel explica que quanto mais opressões aquele indivíduo sofre, quanto maior a sobrecarga de opressão social que sofre, mais autorizadas as pessoas se sentem para fazer esse linchamento virtual e mais efeitos práticos isso vai ter no cotidiano daquelas pessoas.

(Felipe Carvalho. “2021 e a cultura do cancelamento: ano em que mais se discutiu sobre rejeição online”. https://www.cnnbrasil.com.br/entretenimento/2021-e-a-cultura-do-cancelamento-ano-em-que-mais-se-discutiu-sobre-rejeicao-online/. 26/12/2021. Adaptado.)

Texto 2

Comentários repudiando a atitude da influenciadora e empresária Bianca Andrade (“Boca Rosa”) por falas durante a sua participação no reality Big Brother Brasil 20. Fonte: Metrópoles

Texto 3

Para ilustrar a cultura do cancelamento, o filósofo Filipe Campello, coordenador do mestrado em Filosofia da UFPE, afirmou em entrevista concedida ao portal UOL, que as democracias modernas substituíram os julgamentos medievais, em que as pessoas eram queimadas na fogueira sob acusações de cunho moral, pelo aval das instituições de justiça.

“Essas vozes têm razão em dizer que essas instituições não estão funcionando corretamente, mas o risco é jogarmos fora toda essa construção e voltarmos à uma lógica persecutória e punitivista, a partir das próprias visões de mundo, de cada um”, adverte o pesquisador. “Se voltamos à crítica ao indivíduo, perdemos de vista a possibilidade de mudança que cada um tem de rever as suas perspectivas.”

(Liz Bessa. “Cultura do Cancelamento: o que é?”. https://www.politize.com.br/cultura-do-cancelamento/. 20/05/2021. Adaptado.)

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