Texto 01
A ordem é produzir, de manhã, tarde ou noite, não pode parar. Chamada de mito da produtividade, ou produtividade tóxica, essa ideia associa o nosso valor exclusivamente àquilo que entregamos, seja no trabalho, em casa ou nos estudos — o tempo não pode ser desperdiçado. Apesar de ser comum, especialistas dizem que esse raciocínio não é nada saudável e afirmam a importância do descanso mental, de um momento sem fazer nada, apenas deixando os pensamentos passarem.
“A pessoa acha que, quanto mais ela produzir, mais reconhecida será, que mais conquistas alcançará. Ela sente que precisa estar ativa o tempo todo; quanto menos folga tiver no dia, melhor o seu desempenho; quanto mais tarefas concluir no dia, melhor. Essas são algumas características que compõem esse mito”, exemplifica a psicóloga clínica Marilene Kehdi.
No entanto, muitas vezes o “não fazer nada” é fazer alguma coisa. Relaxar faz bem para o corpo e para a mente. O problema é que, por mais que isso pareça algo simples, é difícil de ser aplicado. Quando estamos em casa, de folga, por exemplo, queremos nos entreter, assistir a uma série, ler um livro, fazer uma caminhada, ou seja, devemos sempre estar fazendo alguma coisa ou ficamos com a impressão de que estamos desperdiçando o tempo. “É preciso ter o momento de trabalhar, de descansar e de lazer. Quando o tempo não é dividido assim, pode-se chegar ao esgotamento emocional, à fadiga. Pode-se começar a desenvolver transtornos mentais e doenças físicas”, alerta a psicóloga.
(Bruna Alves. “Você não precisa produzir o tempo todo; reconheça a produtividade tóxica”. www.uol.com.br, 12.04.2021. Adaptado.)
Texto 02
O filósofo Bertrand Russell escreveu, em “Elogio ao Ócio”, que, se os homens e mulheres não estivessem tão cansados, não aproveitariam o tempo livre com diversões “monótonas” e passivas e, talvez, teriam mais oportunidades para dedicar-se a alguma atividade de interesse público. Mesmo que a nossa relação com o trabalho tenha passado por transformações desde que Russell escreveu seu livro, o homem do século 21 ainda tem dificuldade para usar os momentos ociosos e decidir o que fazer com eles.
Na sociedade atual, tempo livre virou sinônimo de tempo que ainda não foi preenchido por alguma atividade produtiva. O ócio, o prazer de fazer absolutamente nada, foi totalmente engolido pela rotina agitada do dia a dia. Ter pavor de férias e considerar-se inútil ao “estar à toa” são sentimentos cada vez mais comuns. Ieda Rhoden, doutora em ócio e potencial humano e professora da Universidade do Vale dos Sinos (Unisinos), trabalha com o conceito de “enfermidade do tempo” ao falar desses sintomas. “É quando a pessoa tem dificuldade em lidar com o tempo livre. Se a agenda está cheia e alguém desmarca um compromisso, em vez de aproveitar para fazer algo de interesse pessoal, ela preenche a hora com alguma coisa formalmente ligada à ocupação, algo considerado socialmente produtivo”, exemplifica a professora.
A sociedade cobra e espera que todos sejam seres altamente produtivos, dentro de um conceito capitalista. As pessoas avaliam as outras pela produtividade que demonstram e, consequentemente, essa expectativa gera uma cobrança individual de corresponder e se encaixar nesse padrão.
(“Não tenha medo do ócio”. www.gazetadopovo.com.br, 28.03.2016. Adaptado.)
Texto 03
A produtividade tóxica afeta mais uns do que outros. Principalmente, destaca-se nas pessoas ambiciosas, mas também nas que têm baixa autoestima. Elisa Sánchez, psicóloga do trabalho no Colégio de Psicologia de Madri, diz: “as pessoas com alto nível de exigência sentem que não são suficientes apesar do que fazem. Sempre precisam da opinião externa e do reconhecimento para se sentirem validadas. Para elas o medo é relevante. Por isso, trabalham mais e quanto mais os outros verem, melhor. Assim, têm a sensação de que controlam o tempo e suas vidas”.
(Noelia Núñez. “Pandemia provoca produtividade tóxica: como identificá-la e se libertar dela”. https://brasil.elpais.com, 02.08.2021. Adaptado.)
Texto 04

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto dissertativo-argumentativo, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema: Por que a produtividade tóxica está cada vez mais presente na sociedade atual?
Comentários