O novo ensino médio deve ser mantido ou repensado?

Texto 1

O Novo Ensino Médio (NEM) foi criado pela Lei no 13415/2017 que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional com a proposta de trazer mais flexibilidade ao currículo. Por meio dele, os estudantes passam a ter a possibilidade de montar seu próprio ensino médio, escolhendo as áreas que desejam cursar (os chamados itinerários formativos) através de um projeto interdisciplinar que os torna protagonistas de sua aprendizagem. Ele substitui o antigo formato em que havia 13 disciplinas obrigatórias iguais para todos os estudantes, independentemente de quais fossem seus interesses e necessidades pessoais.

Com o NEM, apenas uma parte do currículo é comum a todos os alunos, o equivalente a 1800 horas destinadas aos conteúdos nas áreas de linguagens, matemática, ciências humanas e ciências da natureza. A carga horária comum representa 60% da grade, os outros 40% reúnem disciplinas, projetos e oficinas pelos quais os alunos poderão optar de acordo com seus projetos de vida. Além disso, os estudantes devem receber apoio pedagógico para entender suas vocações e sonhos e desenvolver as habilidades necessárias para colocá-los em prática.

Segundo Anna Helena Altenfelder, do Centro de Estudos e Pesquisa em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), entidade do terceiro setor que trabalha na promoção da equidade e qualidade da educação pública do país, a maior expectativa é de que o NEM ajude a aumentar o engajamento dos alunos em relação aos estudos, diminuindo os índices de evasão e abandono neste ciclo de ensino. A taxa de abandono escolar no ensino médio na rede pública mais do que dobrou em 2021, de acordo com o Censo Escolar da Educação Básica.

(“Novo ensino médio promete protagonismo do aluno”. www.metropoles.com, 23.01.2023. Adaptado.)

Texto 2

Entidades estudantis estão entre os principais críticos à reforma do ensino médio. Entre os argumentos contrários ao NEM está o de que, desde o retorno presencial após a pandemia, o programa atravessa diferentes níveis de implementação, variando de estado para estado brasileiro. Além disso, há escolas públicas sem infraestrutura para manter o novo formato. No novo ensino médio, cada colégio deve escolher, no “cardápio” de itinerários formativos elaborado pela sua rede estadual, no mínimo duas opções para oferecer aos alunos (matemática e linguagens, por exemplo). Com isso, em vez de uma turma grande ter a mesma aula às 8h, como era antes, serão dois grupos menores (um que escolheu matemática, outro que preferiu linguagens). Isso exige que a escola tenha duas salas de aula disponíveis no horário.

O aumento da carga horária também é um ponto importante de ser considerado. No modelo anterior, a carga era de 4 horas diárias e, no novo, deve chegar a 7 horas por dia (turno integral) em 2024, o que não é atrativo para alunos mais pobres que precisam trabalhar. Fica mais difícil conciliar a escola com um emprego, o que aumenta o risco de evasão (se um jovem precisar daquele dinheiro, vai abandonar as aulas e focar no trabalho).

Outra crítica importante é que as disciplinas clássicas têm menos prioridade na grade com a entrada das novas ofertas. Em alguns casos, estudantes relatam ter ficado com apenas duas aulas na semana de português e matemática. Alunos de escolas públicas em cidades menores, com menos recursos, também vão acabar sendo prejudicados por ter um “cardápio” de itinerários formativos mais enxuto. Entidades estudantis afirmam, por fim, que a legislação que instituiu o Novo Ensino Médio não foi discutida com todos os setores da educação.

(Emily Santos et al. “Novo Ensino Médio: ajustar ou revogar? Entenda em 7 pontos o debate que envolve alunos e MEC”. https://g1.globo.com, 16.02.2023. Adaptado.)

Texto 3

Em 2023, o “novo” ensino médio encontra-se na metade do primeiro ciclo de implementação. Há evidências de que a direção está certa, com esforços já realizados por todas as unidades da Federação e resultados parciais.

Os maiores problemas da implementação são a incompleta transição da mentalidade e a escassez de recursos. Estabelecer com os estudantes os seus projetos de vida, de forma autônoma e diversificada, é algo inédito no país. Há ainda obstáculos na formação inicial e continuada dos professores, na estrutura física e no parque tecnológico das escolas, na merenda, no transporte escolar, no uso do Enem como vestibular etc. Isso acontece porque tudo foi pensado para atender o já obsoleto “velho” ensino médio. A reorganização exige grande investimento financeiro e acúmulo de conhecimento, ainda insuficientes.

Os resultados, embora promissores, ainda são insatisfatórios, mas voltar com um ensino médio fracassado não pode ser a solução. A reforma do ensino médio deve avançar, com resiliência e criticidade, para melhorar de fato a educação que as juventudes do Brasil estão recebendo e, com protagonismo, têm o dever e o direito de construírem.

(Felipe Michel Braga. “A reforma do ensino médio deve ser mantida? SIM”. www1.folha.uol.com.br, 24.02.2023. Adaptado.)

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto dissertativo-argumentativo, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema: O novo ensino médio deve ser mantido ou repensado?

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