O “confronto” entre índios e civilização ocidental é um dos dilemas do mundo contemporâneo. Incorporá-los a nossa sociedade significa aculturá-los, fazendo-os perder os valores tradicionais e impondo-lhes outros, alheios a sua história.
A aculturação é uma forma de extermínio, apenas na aparência mais branda que a outra, que lhes tem sido imposta ao longo dos tempos, desde o advento das Grandes Navegações: o genocídio de milhares de etnias espalhadas pelo mundo.
Esse crime não se perpetrou apenas nas Américas, mesmo em povos com alto índice de civilidade e tecnologia, como os incas, no Peru, os maias, na América Central, e os astecas, no México. Se tais povos foram incapazes de resistir à ganância dos conquistadores europeus – principalmente portugueses e castelhanos –, o que não se pode dizer de povos mais primitivos, como os que habitavam a bacia amazônica?
A propósito do genocídio indiscriminado, vejamos o registro de Yuval Noah Harari, no best-seller “Sapiens: uma breve históriada humanidade” (p. 287-288), sobre a chegada dos ingleses na Oceania:
No século que se seguiu à expedição de Cook, as terras mais férteis da Austrália e da Nova Zelândia foram tomadas de seus antigos habitantes pelos colonizadores europeus. A população nativa foi reduzida em 90%, e os sobreviventes foram submetidos a um regime cruel de opressão racial. Para os aborígenes da Austrália e os maoris da Nova Zelândia, a expedição de Cook foi o começo de uma catástrofe da qual jamais se recuperaram.
Um destino ainda pior acometeu os nativos da Tasmânia. Tendo sobrevivido por 10 mil anos em total isolamento, eles foram completamente exterminados, até o último homem, mulher e criança, um século após a chegada de Cook. Primeiro os colonizadores europeus os expulsaram das partes mais ricas da ilha e depois, cobiçando até mesmo as terras inóspitas que sobraram, os perseguiram e mataram sistematicamente. Os poucos sobreviventes foram acossados para um campo de concentração evangélico, onde missionários não exatamente tolerantes tentaram doutriná-los nos costumes do mundo moderno. Mas eles se recusavam a aprender. Foram se tornando cada vez mais melancólicos, deixavam de ter filhos, perdiam todo o interesse pela vida e acabavam por escolher a única forma de escapar do mundo moderno da ciência e do progresso: a morte.

No Brasil, o primeiro encontro entre os nativos e os portugueses se deu no ano de 1500, com a chegada de Pedro Álvares Cabral. Segundo o relato do escrivão da frota, Pero Vaz de Caminha, o contato entre povos tão diferentes se deu de modo pacífico, muito embora os lusitanos, desde o início, tenham tentado impor a sua religião:
Chantada a cruz, com as armas e a divisa de Vossa Alteza, que primeiramente lhe pregaram, armaram altar ao pé dela e ali disse missa o padre Frei Henrique, a qual foi cantada e oficiada por esses já ditos. Ali estiveram conosco a ela obra de cinquenta ou sessenta deles, assentados todos de joelhos assim como nós.
Mas isso foi no contato inicial. Posteriormente, os colonizadores tentaram escravizar os índios e lhes impuseram terríveis sofrimentos, quando não o extermínio de várias etnias. Discutia-se, inclusive, se os índios teriam alma, o que significa que não seriam seres humanos, o que justificava todas as atrocidades contra eles cometidas.
Márcio Souza, em “História da Amazônia” (p. 81), em diversos momentos da obra, faz o registro desse confronto desigual e da parcialidade dos registros históricos:
As crônicas dos primeiros viajantes são de escrupulosa sobriedade em relação aos sofrimentos dos índios. Por meio desses escritos instala-se, para sempre, a incapacidade de reconhecer o índio em sua alteridade. Negaram ao índio o direito de ser índio. Ele, o selvagem, vai pagar um alto preço pela sua participação na Comunhão dos Santos
Hoje em dia, milhares de índios vivem na periferia de grandes cidades, como Manaus e Belém. Muitos escondem, por vergonha ou medo, a sua origem. Tribos do noroeste amazonense, ainda não contactadas, certamente não escaparão ao mesmo destino de outras etnias.
Com base nas informações fornecidas e em sua própria experiência e conhecimento, elabore um texto dissertativo sobre a questão indígena através dos tempos ou no mundo contemporâneo. Se quiser, proponha uma solução para o dilema: como trazer os índios para o nosso convívio sem aculturá-los, ou seja, sem fazê-los perder a sua identidade?
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