A Medicina Paliativa é a reinvenção ou o resgate da medicina tradicional. Mais do que exames, tubos de ventilação mecânica ou leitos frios de uma UTI, ela abraça o paciente. Frequentemente – mas não necessariamente – pega-o pela mão até os seus últimos dias de vida. Talvez por isso ainda tenha ares de tabu tanto entre pacientes quanto entre os médicos. A Medicina Paliativa não é um método de tratamento, mas uma atividade que trata o paciente com dignidade e que o ajuda a morrer. Isso, evidentemente, quando ele sofre de uma doença irreversível.
Ela não é disciplina obrigatória nas faculdades e tampouco é considerada uma especialidade, como a oftalmologia ou a cardiologia. Tanto que é mão de obra rara nos consultórios médicos. Não existem dados oficiais, mas a estimativa é que o número de paliativistas no Brasil não bata sequer na casa dos milhares.
A estatística ganha contornos ainda piores quando se fala em “qualidade de morte”. Em 2010, um ranking da revista “Economist” sobre o tema colocou o Brasil na antepenúltima colocação entre 40 países, na frente apenas de Uganda e da Índia. Em 2015, quando o ranking foi atualizado com uma mudança de metodologia, o Brasil ficou na 42ª posição entre 80 países, ainda atrás da maioria dos vizinhos latinos.
Países com melhor qualidade de morte, segundo o relatório divulgado com a lista, compartilham características como uma política nacional de cuidados paliativos, altos gastos públicos com serviços de saúde, grande oferta de medicamentos para controle da dor e forte consciência pública sobre cuidados paliativos.
O tabu maior, os especialistas acreditam, talvez venha justamente da intimidade que a área tem com a morte, algo que a medicina luta o tempo todo para vencer ou adiar. Ou ainda da confusão que existe aqui e acolá de medicina paliativa com eutanásia – prática definida por antecipar a morte natural do paciente para findar o sofrimento e que é crime no Brasil.
Para a Medicina Paliativa, a dignidade humana se preserva na linha do meio: nem antecipar e nem adiar o fim a todo custo. Morrer deve acontecer no tempo certo. Com conforto e livre de dores, de preferência.
Adaptado de: www.metropoles.com/brasil/saude-br/medicos-de-alma-medicina-paliativa-e-resposta-para-doencas-sem-cura (Acesso em 08/10/2018)
Ainda a respeito do assunto, leia o que diz o conceituado médico Dráuzio Varella:
Houve um tempo em que a Medicina tratava os doentes enquanto considerava haver possibilidade de cura. Depois, os médicos aconselhavam a família a levar o paciente para morrer em paz em casa. Infelizmente, na grande maioria dos casos, essas pessoas morriam no meio de sofrimento atroz, desassistidas.
Testemunhei esse procedimento médico no início de minha carreira de oncologista. Quando se esgotavam todos os recursos terapêuticos, a alternativa era liberar o doente para passar seus últimos dias de vida em casa, ao lado dos familiares, e o leito era ocupado por outro com chance de sobrevida.
De uns anos para cá, e já não sem tempo, a medicina resolveu assumir a responsabilidade que lhe cabe nessas situações. O compromisso do médico só termina com a morte do paciente, quer ele esteja em casa ou no hospital. Essa nova concepção de atendimento aos doentes fez florescer a especialidade de cuidados paliativos. Seu principal objetivo é aliviar o sofrimento e melhorar a qualidade de vida dos pacientes com “doença ativa e progressiva que ameace a continuidade da vida”.
Fonte: https://drauziovarella.uol.com.br/entrevistas-2/cuidados-paliativos/
(Acesso em 05/11/2018)
Uma das especialistas em medicina paliativa no Brasil é a doutora Ana Cláudia Quintana Arantes. Leia o que ela diz sobre o assunto:
Proferi a palestra “A Morte é um dia que vale a pena viver” e acabei de lançar um livro pela editora Leya – Casa da Palavra com o mesmo título, livro que já está entre os mais vendidos e recomendados.
Atualmente, sou docente da The School of Life, ministrando as aulas “Como lidar com a morte” e “Como ter melhores conversas”. Coordeno o curso avançado de Cuidados Paliativos da Associação Casa do Cuidar.
Desde 2015 venho desenvolvendo cursos intensivos de Conversas sobre a Morte para desvendar o tabu do tema. Trabalho em meu consultório particular no atendimento de pacientes na Geriatria, Cuidados Paliativos e Suporte ao Luto
Não só o amor, mas também a morte é tema bastante explorado na poesia. É quase sempre
mostrada de modo angustiante. Entretanto, veja que o poeta Manuel Bandeira, no poema
“Consoada”, trata a morte de forma amigável.
Quando a indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
– Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar“A morte é nossa matéria-prima. Mas aqui priorizamos a vida. É sobre acrescentar mais vida aos dias. E não mais dias à vida”
Érika Oliveira, chefe do serviço de cuidados paliativos do Hospital de Apoio do DF
In: www.metropoles.com/brasil/saude-br (Acesso em 10/10/2018)
Com base nas informações dos textos e em sua própria consciência, elabore um texto dissertativoargumentativo sobre a Medicina Paliativa, discutindo o assunto em, pelo menos, um dos aspectos seguintes:
- a) Deveria a Medicina Paliativa ser uma prática comum entre os profissionais do ramo?
- b) Os profissionais desse ramo da Medicina estão certos em seu procedimento?
- c) Deveriam as pessoas se acostumar com a ideia da morte e aceitá-la como fato inevitável?
Comentários