Texto 1
Muitas pessoas em situação de rua podem ser encontradas em diversos pontos da cidade de Manaus vivendo em condições desumanas. De acordo com Rosiane Pinheiro Palheta, doutora em Serviço Social, “existem muitos casos em que a pessoa prefere ficar na rua porque a considera mais aconchegante e mais segura do que permanecer dentro da própria casa. A dependência química pode ser o motivo de as pessoas estarem na rua e, nesses casos, apesar de haver vínculo afetivo com a família,
esse é suprimido pelo vínculo com o álcool e as drogas”.
Para o doutor Luiz Antônio Souza, sociólogo e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), a questão das pessoas em situação de rua é uma das expressões mais explícitas da desigualdade social. Esse é o caso de Erivaldo Macedo, de 46 anos, baiano que mora em Manaus há dois anos e oito meses. Sua cidade natal, Coronel João Sá, é um município no interior
da Bahia que faz parte do Polígono das Secas, característico por ser árido e seco, o que prejudica a subsistência da população. Segundo ele, “morar nas ruas de Manaus é melhor do que viver na minha cidade natal. A base de vida lá é a agropecuária e, sem chuva, a renda não existe”.
Valter Lopes, de 62 anos, disse morar nas ruas de Manaus há 20 anos. “Eu escolhi estar aqui. Eu trabalho reparando os carros e, quando consigo dinheiro, vou para um quarto que custa R$ 30”. Mesmo tendo a oportunidade de estar em um abrigo para pessoas de situação de rua, Valter diz que não conseguia ficar nesse tipo de espaço, pois não conquistaria o seu dinheiro e
perderia a liberdade. “O tratamento no abrigo é bom, mas aí fica aquele monte de gente sem fazer nada”.
(Deborah Arruda. “Drama social: moradores de rua em Manaus vivem com condições desumanas”. https://d.emtempo.com.br, 04.08.2020. Adaptado.)
Texto 2
Quanto à área da moradia, Róbson Mendonça, presidente do Movimento Estadual da População em Situação de Rua de São Paulo, afirma que os albergues não são solução. “Albergue não capacita, não gera nada, faz a pessoa em situação de rua ficar estagnada, indo de albergue em albergue, sem uma solução. Precisamos pensar uma maneira de tornar a ação efetiva,
fazendo com que o albergue seja algo provisório. O sujeito deve sair dele para um hotel social, conseguir um emprego e ir progredindo gradativamente”, diz.
Além disso, deve-se ponderar que a discriminação que afeta a população em situação de rua faz com que as pessoas em geral não entendam, por exemplo, a demanda por políticas de cultura, acreditando que ações de saúde, moradia e trabalho já seriam suficientes. Ledo engano. Como para qualquer outro cidadão, a cultura para as pessoas em situação de rua também é importante. Durante dois anos, no Complexo Zaki Narchi, em São Paulo, o projeto Oficinas trabalhou questões de direitos humanos com pessoas em situação de rua, por meio de uma metodologia de arte-educação, ao oferecer oficinas de fanzines,
fotografia e preparação de eventos culturais, como carnaval.
Para Neide Vita, educadora em direitos humanos pela Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp), as políticas públicas devem ser feitas “com” as pessoas em situação de rua e não apenas “para elas”. “Só conseguimos fazer uma política pública, e implementá-la, se ouvirmos todos os lados. Durante anos, a população de rua foi violentada e não conseguiu
ter visibilidade”, afirma.
(Luciano Velleda. “População em situação de rua é desafio para políticas públicas”. www.redebrasilatual.com.br, 24.09.2016. Adaptado.)
Texto 3
A “Política Nacional de Assistência” garante o direito da pessoa em situação de rua ser atendida por uma rede de acolhida e de serviços de assistência. Embora os direitos sejam assegurados pelo Estado, esse muitas vezes discrimina as pessoas em situação de rua, não as enxerga como seres humanos e, quando elas precisam de atendimento, o poder público revela descaso ao demorar a atendê-las. Esse menosprezo desencoraja esses indivíduos de reivindicar um direito que lhes pertence. Isso influi na descrença deles quanto aos projetos sociais.
Assim, devido à ineficácia de algumas medidas protetivas, o meio pelo qual as pessoas em situação de rua sobrevivem é o trabalho informal. Essa alternativa, porém, é também muitas vezes impossibilitada pela cisão entre as pessoas em situação de rua e a sociedade, pois aquelas nem são notadas como seres humanos, são invisíveis sociais. Segundo Domingos do
Nascimento Nonato, doutorando em Direitos Humanos pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e Raimundo Wilson Gama Raiol, doutor em Direitos Fundamentais e Relações Sociais pela UFPA, “em geral, a população em situação de rua é vista pela sociedade como um grupo que oferece risco relacionado a atos criminosos ou à violência, e não como um segmento que
se encontra em risco”.
(Ricardo G. Vasconcelos et al. “Pessoas em situação de rua: invisibilidade social, empregabilidade, saúde e vulnerabilidades – um estudo a partir da Prática Curricular de Extensão”. Conecte-se!, vol. 3, no 6, 2019. Adaptado.)
Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto dissertativo-argumentativo, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema: As ações de amparo social podem diminuir a invisibilidade das pessoas em situação de rua?
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